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     Para Aristóteles a produção da beleza em um objeto é definida por elementos básicos, que são: ordem; tamanho e forma das partes individuais; e a simetria, que contemporaneamente assume o status de proporção. Ele também define o conceito que o sucesso de um objeto ou artefato reside no fato de que nada pode ser adicionado ou removido sem que se perca a essência do todo e define esta coesão utilizando o termo reductio ad absurdum.

     Quando se fala da Forma na Arquitetura, fala-se da ousadia estrutural e força das formas livres de Oscar Niemeyer, do perfeito jogo de planos horizontais e verticais de Mies van der Rohe, da plasticidade expressiva nos detalhes e volumes de Le Corbusier, do equilibrado jogo entre retas, curvas e pormenores nas complexas camadas de Alvar Aalto, da singular exuberância formal de Gaudí, do domínio sobre a matéria, forma e luz de Peter Zumthor, dos infinitos e intrincados entrelaçamentos de detalhes na herança veneziana de Carlo Scarpa, do vigoroso jogo cromático de Luis Barragán, da precisão relojoeira high-tech de Richard Rogers, da delicadeza e leveza dos espaços livres e apolíneos de Kazuyo Sejima, do apurado domínio da união entre forma, escala, proporção e detalhe de Álvaro Siza, da reinvenção da monumentalidade clássica de Tadao Ando e Louis Khan, da perfeita coesão entre estrutura e forma de Norman Foster, da redução ao mínimo nos espaços etéreos de John Pawson, da extravagante colagem de materiais, cores e texturas de Gio Ponti, da perene austeridade clássica de David Chipperfield, do rico espaço interior no raumplan de Adolf Loos, da profusa interconexão mondrianica entre linhas horizontais e verticais em Gerrit Rietveld, da explosão de curvas, texturas e cores nas paisagens de Burle Marx.

     Por fim, quando se fala da Forma na Arquitetura, fala-se de uma linguagem não verbal, dificilmente expressa e capturada em sua plenitude, a não ser pela total imersão na rica e complexa dualidade espaço tempo.

 

Marco Dudeque

 

      A disciplina de Estudos da Forma do CAUUFPR apresenta atualmente, em seu plano de ensino, conteúdos e exercícios que traduzem suas finalidades intrínsecas, principalmente o aprendizado da composição artística, por meio do desenho e da criatividade, e o reconhecimento dos aspectos conceituais, construtivos e de síntese da expressão visual, para a compreensão do processo de geração da forma. 

     O conteúdo compõe-se basicamente de exercícios aplicados na disciplina, nos últimos anos. Analisa o processo de criação das idéias e revela o resultado por meio de imagens dos trabalhos de alunos. Dentro da apreensão de que desenhar é um meio de disciplinar o estudante de arquitetura e construir conhecimento, estes exercícios revelam uma pequena parte de todo o processo de ensino-aprendizagem do desenho e da composição no CAUUFPR. O desenho, tanto em sua qualidade técnica, que possibilita a realização de um projeto, como em sua qualidade artística, como meio de criar e expressar-se plasticamente, tem a capacidade de extrair significados e revelar a possibilidade de um mundo ainda não conformado. Desenho e imaginação, observação e criação, técnica e arte interagem constantemente na disciplina de Estudos da Forma.

     A duração de cada exercício varia normalmente entre um ou dois bimestres, de acordo com sua complexidade. Para cada exercício, após o lançamento do tema, teoria e prática se desenvolvem de forma integrada, conforme a necessidade e o objetivo do exercício. A teoria compreende aulas teóricas, seminários, pesquisa individual e em grupo, além das apresentações finais. A prática se dá por meio de todo trabalho realizado em ateliê, como as oficinas de desenho e perspectiva, laboratório de computação gráfica e maquetes. Os trabalhos resultam normalmente em objetos tridimensionais elaborados em materiais e técnicas diversas. O registro do processo de trabalho se dá em cadernos ou pastas contendo esboços, desenhos de desenvolvimento da idéia e desenhos finais. Alguns exercícios são realizados individualmente, outros em equipe.

     Os exercícios têm como objetivos: a percepção e organização da forma bidimensional, baseados na alfabetização visual e nas leis e princípios da Teoria da Gestalt; o desenvolvimento da manipulação e modelagem da forma tridimensional; a habilidade de expressão das propostas espaciais por meio de desenhos e modelos tridimensionais; a exploração da capacidade criativa e expressiva na relação forma-espaço; a interpretação e a representação das emoções advindas de uma composição artística espacial e a discussão dos conceitos e princípios compositivos nas artes visuais e em arquitetura. 

     Ao poder gozar de certa autonomia interna, própria da disciplina, cada aula é uma nova aula, onde surgem situações imprevistas e inusitadas que resultam das atitudes, valores e conhecimento dos professores e alunos e também do momento histórico em que acontecem. O cotidiano do ateliê de arquitetura desempenha um papel eminentemente ativo e criativo no desenvolvimento dos saberes, onde os alunos constroem seus conhecimentos a partir de relações complexas e mal conhecidas de antemão, e o professor, que é na verdade um orientador, intervém sem poder medir exatamente o alcance de seu ensino. 

 

Silvana Weihermann

 

 

    

 

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